O atual território do município
de Valença, por ocasião do descobrimento do Brasil, era habitado por indígenas
tupiniquins, de índole pacífica. Quando D. João III, Rei de Portugal, em 1534,
dividiu o Brasil em Capitanias Hereditárias, aquela área ficou pertencente à
capitania de Ilhéus, sob a jurisdição da Vila de Nossa senhora do Rosário de
Cairu, local onde se fez o primeiro povoamento.
Entre as pessoas que vieram
povoar o território em apreço, ocupava lugar proeminente Sebastião de Pontes,
homem rico e de prestígio que já possuía dois engenhos de açúcar no recôncavo
da Bahia. Muitos moradores se estabeleceram nas terras banhadas pelo rio Una,
com fazendas de cana e mantimentos. Além desses moradores civilizados, havia,
também, na vizinhança do engenho, uma aldeia subordinada a Sebastião de Pontes.
Era o Senhor Sebastião de Pontes homem honrado, porém de gênio arrebatado e
violento, acostumado à luta armada, havendo tomado parte em expedições contra
os indígenas. Não costumava transigir com quem o ofendesse ou o contrariasse.
Aconteceu por esse tempo, provavelmente em 1573, aparecer um mascate no engenho
de Sebastião de Pontes e a este fez ofensa de que resultou mandar açoitá-lo e a
ferro quente marcá-lo numa das espáduas.
Conta-se que este mascate, tempo
depois, em Portugal, alcançou meio de apresentar-se ao rei quando este ia à
missa, deixando cair à capa, única cobertura que levava sobre os ombros,
mostrando-lhe o ferrete ignóbil e com muitas lágrimas implorou-lhe justiça.
Foram imediatamente transmitidas ordens para a capital do Brasil, sobre a
prisão e envio para Lisboa, de Sebastião de Pontes. Fez o governo real ir ao
Morro de São Paulo num navio de guerra. Seu comandante visitou Pontes no
engenho do Una e ardilosa e traiçoeiramente, convidou-o para uma visita ao
navio. Sebastião de Pontes atraído para bordo, quando ali almoçava foi
inteirado da verdade, metido a ferros e transportado para Lisboa. Recolhido à
cadeia do Limoeiro, acabou seus dias. Desta maneira, desapareceu do Una o
primeiro homem empreendedor que lhe deu prosperidade. Daí, invadida a região
pelos índios aimorés, de índole bravia, diminuiu o progresso e ficou obstada
por muito tempo a colonização do território de Valença.
Anos depois, já no
século XVIII, após sangrentas represálias aos aimorés pelos bandeirantes do
paulista João Amaro Maciel Parente, reencontrou à localidade em fase de
progresso, que justificou a proposta do ouvidor da Comarca de Ilhéus,
Desembargador Baltazar da Silva Lisboa, para a criação de uma vila na povoação
de Una. Aprovada a proposta do ouvidor, foi determinada, pela Carta Régia de 23
de janeiro de 1799, a criação da Vila de Nova Valença do Santíssimo Coração de
Jesus, com território desmembrado do município de Cairu. Ocorreu sua instalação
a 10 de junho do mesmo ano, com a presença do dito desembargador, que sugeriu a
construção da Igreja do Santíssimo Coração de Jesus. Uma vez concluída,
tornou-se matriz da freguesia, em 26 de setembro de 1801.
Nesta época começou a extração
da madeira que se destinava a construção dos navios da armada real e a área
desmatada foi sendo ocupada pelas atividades agrícolas, notadamente a mandioca
, arroz de Veneza, café , pimenta do reino e canela.
Aos poucos os habitantes das
ilhas próximas que viviam em constantes enfrentamentos com os índios e não
conseguiam plantar foram voltando para a área , cujo núcleo de povoação se
estabelecera nas proximidades da capela de Nossa Senhora do Amparo. A
denominação Valença foi atribuída, segundo reza a tradição popular, por estes
novos moradores, para os quais a localidade representava a solução para os seus
problemas, Terra da Valença, da salvação. Uma outra versão atribui a escolha
deste nome ao conselheiro Baltazar da Silva Lisboa que na intenção de
homenagear ao ministro Marques de Valença, elevou o povoado á categoria de
vila, em 10 de junho de 1789, dando-lhe o título de Nova Valença.
Em 23 de Janeiro de 1799 foi
criados a vila de Nova Valença do Santíssimo Coração de Jesus, com território
desmembrado de Cairu. Neste mesmo ano começaram as obras de construção da
Igreja do Santíssimo Coração de Jesus, concluída em 1801 e transformada em
matriz da freguesia.
Por força da Resolução nº 368,
de 10 de novembro de 1849, a sede municipal recebeu foro de cidade, sob a
denominação de Industrial Cidade Valença.
A maior cidade da Costa do
Dendê é ao mesmo tempo, uma plácida cidade pesqueira e colonial do século XVI e
um dinâmico pólo comercial e de serviços da região. Famosa por seus camarões.
Valença conta com um cais do porto onde o casario tem a beleza de um cartão
postal antigo, ofertando aos visitantes um rico patrimônio histórico que
convive em harmonia com os barcos pitorescos que povoam o Rio Una, que divide a
cidade. Três pontes interligam as duas partes da cidade.
A região sofreu com a invasão
holandesa na Bahia em 1624 e participou ativamente das lutas pela independência
da Bahia. Quando abrigou a esquadra do Lord Cochrane, vindo para combater os
portugueses em 1823. A atuação nessa luta, ao lado de Cachoeira e de Santo
Amaro, foi tão notável que a cidade recebeu o título de “ a decidida “ como no
hino da cidade fala.
Na 2ª guerra Mundial, Valença
também entrou em cena, quando submarinos alemães bombardearam os navios Itajiba
e Irará, na sua costa. Os passageiros foram salvos pelo saveiro Araripe e os
feridos levados para o hospital que funcionava improvisadamente no Prédio do
Sindicato dos trabalhadores da Industria de Fiação e Tecelagem de Valença,
antiga Recreativa , prédio de planta francesa e arquitetura neoclássica.. Este
mesmo prédio foi o primeiro banco de sangue desta região, fato ocorrido em
agosto de 1942.Por este gesto, Valença recebeu o título de “ a hospitaleira”.
Decidida, pacifica e
hospitaleira, Valença reúne hoje os principais estaleiros da Bahia, onde são
construídos barcos, saveiros, veleiros, escunas e até caravelas, como a replica
da nau Nina, da pequena frota de Cristóvão Colombo, que foi feita especialmente
para o filme: 1492: A conquista do Paraíso, de Ridley Scott.
Valença teve destaque, também,
no episódio da independência do Brasil, quando obrigou a esquadra de Lord
Cochrane que viera combater os Portugueses. Juntamente com Cachoeira e Santo
Amaro, Valença resistiu aos ataques lusitanos ficando conhecida como "A
Decidida".
Texto e fotos extraídos do site
Memorial da Câmara de Valença